Editorial
Vergonha do que elegemos
Desde a última quarta-feira, circulam nas redes sociais e em aplicativos de mensagens vídeos que mostram um pouco da desqualificação do Congresso brasileiro. Em pleno Dia Internacional da Mulher, parlamentares homens julgaram-se no direito de fazerem discursos que, ao invés de valorizar o papel feminino na sociedade e somar na luta por direitos, deixaram claro o tamanho do desrespeito e falta de conhecimento sobre a pauta da igualdade de gênero.
O caso mais abjeto é o de Nikolas Ferreira (PL-MG). Deputado federal mais votado do País na eleição do ano passado, o jovem político entendeu como boa ideia ocupar espaço da relevância da tribuna da Câmara para debochar do feminismo e, pior, ofender mulheres trans. Inclusive aquelas tão eleitas quanto ele para representar seus estados e a população. Com uma caricata peruca na cabeça, o tresloucado Ferreira usou de nada fina ironia para dizer que poderia ser chamado de "Nicole" e, a partir disso, passou a desferir absurdos contra as mulheres transgênero.
Mas houve outros pronunciamentos lamentáveis. Em um deles, o deputado Carlos Jordy (PL-SP), ao reclamar de comentário de uma parlamentar durante sua fala, a chamou de "abusada". E foi além, ao dizer que "talvez por ser Dia da Mulher, [a deputada] acha que pode ficar falando besteira". Já o senador Jorge Kajuru (PSB-GO) preferiu no dia 8 de março enaltecer que, na festa de seus 30 anos de carreira como jornalista, teve a presença de 11 ex-esposas. São apenas dois exemplos a indicar o tamanho do descompromisso de grande parte dos legisladores homens brasileiros com aquilo que de fato importa às mulheres.
Aliás, é fundamental ressaltar: ao discutir temas sensíveis à população feminina, ao contrário do que se convencionou afirmar, não se fala de pautas de minoria. Ao contrário, as mulheres são maioria na sociedade. E é esse descompasso entre a quantidade no contexto geral e a subrepresentação em posições de liderança política, empresarial e na maioria das entidades e organizações sociais que precisa ser enfrentado. A começar pelo Congresso Nacional, que tem como missão ser espaço de construção de leis e políticas que garantam a todos os brasileiros e brasileiras direitos plenos à cidadania. Não cabe, portanto, considerar aceitável que nem mesmo no Dia das Mulheres elas sejam respeitadas.
Faria muito melhor esta parcela de parlamentares dotada de pobreza de espírito e completa ignorância se optasse pelo silêncio. Embora as lutas das mulheres devam ser encampadas também pelos homens - visto serem acima de tudo temas fundamentais para toda a sociedade -, na falta de empatia e conhecimento sobre o assunto, que as deixem falar. Certamente o resultado será muito melhor e mais produtivo para o País.
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